Corpo Estranho

o tempo escorreu

aguar-se e molhar as plantas

quieta

fez a rega

seu regaço vazio da cabeça deitada 

para um cafuné depois do almoço

todas as lágrimas

e tantas horas de gotas 

pelas janelas nos dias de chuva de verão

molhadas férias de solidão

e água de beber

mesmo afogando num copo pequeno 

ou num poço fundo onde não existia só

só dois

resistiu

pensou que seria mais fácil no instante que terminasse


onde pode matar a sede de se lembrar como era antes? 

antes dos pés frios aconchegarem nos seus

da toalha molhada esquecida sobre a cama

do ronco do motor na porta de casa?


seu corpo estranho

entranhado

pedra no chão do lago

submersa na pressão de ser companhia 

e não quem quiser: 

agora anda como se faltasse uma perna

um braço

um nome