Ler por prazer: um remédio contra o tédio!

No ano passado, pouco antes do meu filho completar 9 anos, aconteceu uma coisa que, eu tenho certeza, mudou nossas vidas para sempre: ele se apaixonou por ler. E é muito bonito acompanhar, seja como mãe ou como professora, o despertar para esse amor.

Quando finalmente a criança se torna autônoma na leitura e proporcionamos à ela títulos adequados à sua idade, é bem possível que esse relacionamento se inicie e é nosso papel colocar lenha para que ele pegue fogo cada vez mais, no bom sentido.

A escola também faz esse papel, mas muitas vezes o efeito é o contrário do que esperamos. Isso porque comumente a leitura de títulos obrigatórios, aqueles paradidáticos que toda a criança precisa ler na escola e depois, recontar, reescrever, fazer provas a partir deles, apresentar seminários e cadernos de leitura… faz com que os pequenos desencantem.

São tantas obrigações que cercam o ato de ler, esse ato fica tão institucionalizado, que acaba se tornando algo chato, sem nenhuma novidade. Mesmo os livros mais bacanas, quando apresentados dentro de modelos muito engessados, perdem a beleza e enfim, a criança começa a dizer que não quer ler e que aquilo é uma perda de tempo.

Mas voltando à história do meu filho, ele se apaixonou pelo livro “Os bandeira pirata e o galeão assombrado”, de Jonny Duddle, um livro de leitura obrigatória da escola. O enredo do livro o deixou muito animado, mas diferente dos outros títulos, ele fazia parte de uma sequência e esta não estava prevista em sua totalidade para o ano letivo. 

Reconhecendo esse romance repentino entre ele e os livros, eu fiz minha parte: passei na livraria e trouxe os outros três títulos que davam continuidade ao primeiro e então foi uma festa! Ele leu um por dia, sem parar, em todos os momentos em que se sentia entediado, ou como ele mesmo diz: tô sem nada para fazer, vou ler!

Os livros dessa coleção possuem letras em tamanho maior para a criança que iniciou há pouco tempo a leitura de livros mais grossinhos, possuem ilustrações bacanas, muito humor e aventura, super recomendados para essa faixa etária.

Isso deu início a uma nova fase aqui em casa, que está cheia de prazer, mas também de muita dificuldade: ele quer ler os livros que deseja e não os que as escola determina dentro de um tempo específico, cumprindo o calendário. Ele se apaixonou pela leitura livre, sem imposições. E depois ainda descobrimos juntos que ele adora livros que continuam e se desmembram, isto é, as séries de livros, compostas por jornadas de herois e anti-herois.

Foi assim que ele mergulhou numa coleção super engraçada e cheia de aventura, com desenhos fantásticos em preto e branco, que deu origem inclusive a uma série da Netflix, chamada Os Últimos Jovens da Terra. Max Brallier, escritor e roteirista, que também esteve no comando das aclamadas Steven Universe e a Hora da Aventura, é o responsável por me fazer ir à livraria a cada 3 dias desde o início deste ano!

Para crianças entre 9 e 11 anos, que amam sagas engraçadas, com zumbis, monstros e surpresas, esses 12 livros são como um remédio contra o tédio. Mas e os livros que a escola continua recomendando como obrigatórios? Pois é, esse é mesmo um desafio por aqui. Ele lê, mas nem sempre gosta, seja porque não se identificou com a história, seja porque a obrigatoriedade já torna o livro um problema na rotina. Talvez (e aqui agora escreve uma mãe um pouco desesperada — kkkkk) ele esteja crescendo rápido demais e já quer deixar bem claro quais são os limites sobre o que ele deseja fazer e o que o outro manda fazer.

De qualquer forma, enquanto eu lido com algumas crises aqui em casa (e você com certeza na sua), a leitura por prazer é uma grande aliada! Nas viagens intermináveis de avião, nas tardes chuvosas de verão que impedem as aulas de esportes, quando a criança quebra um braço, nos dias em que recebemos visitas de parentes e amigos, no percurso entre a casa e a escola ou enquanto espera a carona, em todos os momentos em que a criança é invadida por um tédio sem precedentes, ler por prazer é uma atividade-salvação!

Por isso, indico que as crianças sempre tenham livros à mão, livros que elas mesmas escolheram, que elas quiseram seja pelo motivo que for! Se estiverem adequados à sua idade e nível de leitura, está tudo bem! Enquanto estou digitando esse texto, (primeiro ele reclamou que não pode jogar porque estirou o dedão numa manchete de volei bem no primeiro dia de feriado e blablabla), ele está deitado no sofá feito um lagarto, rindo sem parar, lendo mais um dessa coleção interminável que é puro suco de comédia pré-adolescente: Diário de um Banana.

É claro que também podemos introduzir outras temáticas e assuntos importantes, sugerir livros que contenham pautas que julgamos necessárias para a reflexão, mas é fundamental que a criança faça suas escolhas baseada em seus repertórios e vontades, naquilo que desperta sua curiosidade e fome de ler.

Coluna disponível na íntegra em: Revista Voo Livre – Vol. 1, Nº 55, Abril de 2025 -