Barriga

Uma barriga quente, roliça, pança caída como a tela da Leda,

pedaço gordo, vontade de apertar igual espuma que vai e vem.

Ele vive dizendo que a comida é muita e que devo fechar:

a boca, a língua, as papilas gustativas que me dão prazer.

Ele não me dá.

Fica me olhando torto enquanto afundo os dentes na torta,

no creme, nos pedaços fartos de carne; 

não o seu creme,

não a sua carne.

É que gosto de tudo fresco, feito na hora, cheirando a tempero.

Enjoei do gosto das suas velhas piadas sobre meu corpo redondo,

do sabor ácido do seu sussurro em meu ouvido e eu só quero

comer comer comer comer comer comer comer comer 

comer e me dar o prazer das infinitas texturas que eu não tenho

em casa a geladeira não dorme sem me satisfazer

o desejo de crescer para os lados

para as bordas 

e vazar erótica massa.

A barriga me leva onde eu gemo e salivo e escorro.

.

Para ele: desejo a mortalha da fome.


Texto disponível na revista para leitura online: A Desfrutrada (adesfrutada.com)